sexta-feira, 28 de maio de 2010

MESTRE AQUINO

Meu Pai

Estava na rua quando avistei uma aposentada de uma estatal (ela tem menos de 60 anos). Ela estava passeando em seu Vectra, que parecia ser do ano. Ela se aposentou há mais de dois anos, e a sua aposentadoria é suficiente para comprar um carro do ano. Seria bom se todas as pessoas pudessem ter carros novos de vez em quando.

Mas o fato é que lembrei de meu pai. Ele é mestre de obras, e ajudou a construir o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Meu pai também ajudou a construir o Riocentro, o mesmo local que abrigou a primeira conferência internacional sobre meio ambiente que reuniu os chefes de estado de quase todos os países do mundo.

Digo que ajudou a construir por que todos os operários empenhados de concluir uma obra são responsáveis pelo seu resultado. E um mestre de obras é uma espécie de capitão, de líder sem o qual dificilmente as obras de engenharia passariam do papel para a realidade.

Ele ajudou a construir a Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais especificamente o Centro de Letras, a partir do qual podemos cada vez mais falar com o mundo e com nós mesmos.

Meu pai ajudou a construir fábricas, que geram tanto produtos, quanto empregos.

Mestre Aquino, como meu pai é profissionalmente conhecido, construiu hospitais, e com isso podemos dizer que salvou inúmeras vidas, e ajudou outras tantas à surgirem.

Ele construiu escolas, e estas escolas possibilitaram a chegada do conhecimento para muitas crianças, e podemos dizer também que muitas delas foram salvas da marginalidade. Mas meu pai não podia construir todas as escolas necessárias, e muitas crianças transformaram-se em marginais, e um destes lhe roubou documentos que fizeram muita falta na hora de sua aposentadoria. Com isso ele, que trabalha desde os treze anos de idade, se aposentou com sessenta e cinco, com uma pensão tão pequena que o obriga a trabalhar até Deus sabe quando.

Ele construiu inúmeras residências, possibilitando que famílias pudessem viver em seus lares, ao abrigo do frio e da chuva, mas a sua casa continua inacabada, pois sabemos o quanto é difícil o empreendimento para os pouco favorecidos pelo capital.

Mas meu pai não fez apenas obras. Ele construiu, junto com minha mãe, uma família, da qual me orgulho muito, e com seu exemplo de cidadão e homem, ajudou construir o caráter dos filhos. Seus filhos não esquecem o exemplo do pai, e querem continuar a construção de um mundo melhor.

Pergunto a vocês: Seria possível uma contribuição maior que essa para o mundo?

Seria sim. Meu pai além de tudo isso sempre amou muito. Nunca o ouvi amaldiçoar o próximo. Sempre se dirigiu a todos com alegria. Sempre tratou sua mulher e seus filhos com muito carinho.

Na tese de mestrado que nunca concluí, prometi a mim mesmo que faria uma dedicatória a meu pai: “ ao Mestre Aquino, meu primeiro professor de engenharia”.

Sei que não realizei tudo o que meu pai sonhou que eu realizasse, mas sei também que ele sente orgulho dos filhos que tem. Na engenharia aprendi que é possível levar uma vida melhor do papel para a realidade, seja com saneamento básico, meios de transportes mais seguros, escolas e etc., e como o sonho dos homens é um mundo melhor para se viver, posso também dizer:

“ Meu pai é um materializador de sonhos.”


Marcos H. G. de Aquino (16/08/2000)

5 comentários:

  1. Nosso Mestre Aquino(nosso pai) partiu, mas fico feliz em saber que ele teve chance de ler este texto do Marquinho, que sempre me faz ficar emacionado ao ensar em nosso pai.
    Saudades do Mestre Aquino,Seu Zeca.

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  2. Bela homenagem. O texto fez-me lembrar daquela música que diz " Tá vendo aquela casa, moço? Eu ajudei a construir". Beijos para todos vocês.

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  3. Um texto lindo. Faz me lembrar de um pai q tive! Saudades q não se curam. Parabens

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  4. <É emocionante essa mensagem. Que outros filhos encontrem motivos para homenagear e declarar amor aos pais! O mundo serà melhor quando houver mmais amor e respeito entre pais e filhos. Parabens!

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  5. Linda homenagem e muito merecida! Tio Zeca sempre foi sensacional! Beijos a todos os primos! Clenia.

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